A introdução do pinus tropical no Brasil

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Richard Freudemberg, o entusiasmo de um homem 

Quando Richard Freudenberg com 65 anos de idade, deixou sua consolidada indústria na Alemanha Ocidental, para vir implantar em Agudos a maior floresta de Pinus Tropical da América do Sul, foi chamado de sonhador, mas hoje vemos que seu legado foi maior que seu sonho.

E que não só Richard Freudenberg sonhou, outros também acreditaram no seu empreendimento e empregaram a fundo para velo prosperar, como Horst Schuckar, silvicultor alemão a quem o Brasil deve tanto. Foi ele quem andou selecionando sementes de Pinus tropical pela América Central e Antilhas a fim do as experimentar na Fazenda Monte Alegre

O exemplo desse homem rude e austero, simples e sincero e batalhador obstinado que foi Richard Freudenberg, frutificou como as suas árvores. À então Companhia Agro Florestal Monte Alegre foi uma comunidade feliz, onde todos tem consciência do valor da sua floresta, das pesquisas de melhoramentos genéticos que ali se desenvolveu em, o projeto de ambiência, serio como todos os demais, visando a proteção, o repovoamento e o enriquecimento da fauna.

A floresta deu serviço onde antes era o silêncio do cerrado ou da terra cansada, com gado sendo melancolicamente manejado por meia dúzia de pessoas. Chegando a ser uma família de mais de três mil e quinhentas pessoas vivendo diretamente da floresta, da fábrica e das áreas de pastagens onde o gado foi também reintroduzido mas consideravelmente melhorado.

Outras empresas brasileiras puderam se aproveitar de Know- how do núcleo formado em Agudos na formação de florestas artificiais, utilizando-se ainda das sementes melhoradas pela CAFMA ao longo de anos de exaustivas pesquisas, também nos sentimos orgulhosos em colaborar para o progresso do Brasil neste importante setor.

Enquanto na Europa, um pinheiro cresce 35 centímetros por ano, no nosso país, em Agudos, até aos 10 anos, cresce 1 metro e meio por ano.

"Rendo graças ao Senhor, que assim abençoou o Brasil" dizia Richard Freudenberg a cada visita que fazia ao seu empreendimento e observava o crescimento dos pinheirais. Também rondemos graças a esses pioneiros destemidos, aos homens que souberam continuar a sua obra e a Deus que verdadeiramente abençoa todos os que trabalham com dedicação e amor.

Essa história começa em 1958... Richard Freudenberg, um alemão empresário do couro no sul da Alemanha, precisamente na região de Weinheim - Mannheim, a 75 km ao sul de Frankfurt, estava justamente se favorecendo do Plano Marshall de pós-guerra para a reconstrução da Alemanha. Enquanto isso acontecia, ele conversava muitas vezes com seu particular amigo, o Conde Von der Recke, um engenheiro florestal que se gabava que tinha mais árvores do que tinha o amigo em trabalhadores empregados em suas fábricas remodeladas pelo referido Plano.

Nessa época, Richard descobriu que a Alemanha tinha um programa especial para aplicação de recursos de incentivos fiscais em países subdesenvolvidos. Não hesitou e veio ao Brasil, sabedor de que o Estado de São Paulo tinha um programa de reflorestamento com diversas oportunidades onde ele poderia aplicar e investir.

Richard encontrou aqui, o Dr. Ismar Ramos como diretor do antigo Instituto Florestal de São Paulo, com quem se relaciona muito bem e vem a conhecer dois braços direitos do mesmo: Dr. Paulo Helmut Krug – engenheiro agrônomo especialista em introdução de espécies e Dr. Horst Schuckar, um engenheiro florestal alemão fugido do regime comunista da Alemanha Oriental e especialista em viveiros florestais.
Naquela época, o Instituto Florestal de São Paulo estava introduzindo os Pinus no Brasil notadamente os chamados “Southern Yellow Pines” dos EEUU e os Pinus de origem tropical, tanto da América Central como da Ásia.

No primeiro semestre de 1958, Richard compra terras muito baratas nos campos de cerrado em Agudos – SP, muito próximo às florestas do Instituto Florestal em Bauru e Pederneiras. Horst Schuckar é convidado a fundar e dirigir a Companhia Agro Florestal Monte Alegre (CAFMA). Começam então os reflorestamentos com Pinus elliottii var. elliottii; P. taeda, P. elliottii var. densa; P. caribaea var. hondurensis; P. oocarpa, através de sementes conseguidas por Krug nos EEUU, Nicarágua e Honduras. Um viveiro e um arboretum são montados para formar as primeiras mudas e plantar a maioria das espécies introduzidas, tanto coníferas como folhosas.

Um ano após, Dr. Richard convida o Conde Von der Recke para visitar suas florestas no Brasil que eram maiores que as florestas dele na Europa. Richard homenageia seu amigo florestal dando o seu nome ao Arboretum. A CAFMA foi a primeira empresa a plantar teca nos arboretos e quase todos os Pinus de origem tropical introduzidos no Brasil. Além disso, várias coníferas do mundo inteiro entraram para essa coleção.

Destacam-se, entre outras:
Taxodium distichum (pinheiro do brejo); Araucaria excelsa; Agathis robusta; Cunninghamia lanceolata; Cunninghamia konishii; Cryptomeria japonica; Cryptomeria japonica var. elegans; Pinus radiata; Pinus patula; Pinus caribaea var. caribaea; P.caribaea var. bahamensis; Pinus ayacauite; Pinus oocarpa var. ochoterenai; Pinus tecunumanii; Pinus kesiya; Pinus marisonicola; Pinus massonioana; Pinus merkusii; 5 Pinus montezumae; Pinus pseudostrobus; Pinus strobus var. chiapensis; Pinus tenuifolia; Pinus michoacana; Pinus occidentalis; e muitas outras mais.

Dr. Ismar Ramos se aposenta e passa a ser Conselheiro da Freudenberg, Krug sai do Instituto Florestal e passa ser consultor da CAFMA e monta uma empresa para iniciar projetos florestais baseados em incentivos fiscais.

Nessa época trabalhava na CAFMA o Dr. Schuckar como diretor florestal e o Dr. Jaime Pinheiro, conhecido e respeitável engenheiro agrônomo ligado a silvicultura, com larga experiência no Paraná onde estava se mudando para a Klabin do Paraná. Em 1967 Iniciava-se então a terraplenagem da fábrica de painéis de madeira, às margens da Rodovia Marechal Rondon. As florestas estavam situadas ao redor da futura fábrica com distância máxima de 22 km.

Com a falta do Dr. Krug, passou a assumir gradativamente as funções de engenheiro florestal, o senhor Francisco Bertolani ajudado pelo inesquecível Olímpio Rondina, homem do campo que o ensinou coisas práticas que nenhuma escola ensina. Simples, observador, enérgico e bondoso. Foi o professor da escola prática por anos.Olímpio Rondina era respeitado desde o Dr. Richard Freudenberg até o mais simples trabalhador. Foi seu segundo pai e trabalhavam juntos até sua repentina morte.

Com essa falta do Dr. Krug, o Dr. Schuckar passou a ser o explorador das florestas no exterior, atrás de sementes das melhores origens, como demonstrava o crescimento de nosso arboretum. Schuckar, que era amigo do Dr. Golfari, viajou o mundo – pode assim trazer sementes jamais imaginadas. Ele tinha uma característica interessante: contratava pessoal de corte de Pinus nativo e solicitava que o gerente separasse as sementes das melhores árvores e pagava bem por isso. Trilhou os caminhos do Dr. Krug, mas multiplicou as trilhas para novas áreas. Onde sabia que tinha um maciço de Pinus, que poderia fornecer boas sementes, adentrava e acampava na floresta.

Ia a todos os lugares promissores, inclusive nos de difícil acesso: áreas restritas pelo exército (British Honduras), áreas de guerrilheiros na Nicarágua (onde estavam as melhores procedências de P. oocarpa), Isla dos Pinos na difícil Cuba da época. Buscava sempre as melhores procedências de P. caribaea var. caribaea. Não havia local que o Dr. Horst Schuckar não passasse para colher sementes de Pinus: República de São Domingos (P. occidentalis); México, Guatemala, Honduras e Nicarágua – (P. oocarpa); México (P. strobus var. chiapensis).

Portanto, ele era incansável e deixou para o senhor Francisco Bertolani a Bahamas, onde estiveram colhendo sementes de P. caribaea var. bahamensis com os colhedores da CAFMA,sendo chefiados pelo senhor João Batista de Lourenço, em companhia do engenheiro florestal Herval de Souza Jr., que possuía a concessão de colheita pelo governo de Bahamas. Abaco e Little Abaco foram as áreas coletadas pela primeira vez. Também deixou algumas florestas em São Salvador, México e Guatemala para que as visitássemos em busca de boas sementes.

O Dr. Schuckar deixou a CAFMA em 1971 para abrir viveiros no sul da Bahia já que os incentivos apontavam como local promissor. Passou então a ser diretor florestal da CAFMA, o senhor Francisco Bertolani e um sobrinho-neto do Dr. Richard Freudenberg – Herbert Booth era meu codiretor.

As florestas da CAFMA eram manejadas para uso múltiplo, com rotação entre 20 e 25 anos, dependendo da espécie. Eram utilizadas podas precoces até 12 metros de altura e desbastes em número de cinco, donde as madeiras de menor diâmetro iam para a fábrica de MDP (aglomerados) assim como os resíduos da serraria e laminação. Portanto, era uma floresta integrada à indústria que produzia MDP, madeira serrada, “block board” e laminados (por dois processos de laminação - “rotary” e “slice venner”).

Além de suprir a Freudenberg Indústrias Madeireiras S.A., a CAFMA vendia para terceiros os seguintes produtos provenientes das florestas de Pinus: 

  • Madeira;
  • Biomassa para energia;
  • Resina de Pinus;
  • Sementes;
  • Mudas de Pinus;
  • Produtos agropecuários (café, bovinos, suínos).

Para a consecução desse programa de manejo sustentado, muitos estudos e pesquisas foram realizados na CAFMA. Em 1971, a empresa se tornou sócia do IPEF, e muitos trabalhos de mestrado e doutorado foram executados na mesma. Por isso, a empresa contou sempre com muitos engenheiros florestais, biólogos, florestais, etc. entretanto, dois engenheiros florestais que não devem ser esquecidos, senão seria injusto. Foram eles:

Com o falecimento do Dr. Richard Freudenberg que, embora industrial, tinha formação de botânica na Inglaterra, outros presidentes o sucederam. Como as atividades do Grupo, mesmo no Brasil, não tinham muitas relações com florestas, cogitou-se da venda do empreendimento. Vários empreendimentos nacionais e estrangeiros se interessaram pelo negócio. Na eminência de se perder todo o material genético recolhido pelo Instituto Florestal, por Krug, por Schuckar além do meu próprio, uma conversa foi realizada com o Dr. Helládio do Amaral Mello e o Dr. Mario Ferreira para transferir esse material para a Estação Experimental do IPEF em Anhembi, o que foi feito.

Foi uma ação muito importante, pois a maioria das florestas nativas de Pinus, com algumas exceções, se perdeu com o tempo, principalmente na América Central. Portanto, preservamos um material genético que poderá ser de grande importância no futuro florestal brasileiro ou mesmo no mundo.
Em meados de 1973 começou o estudo de genética na CAFMA, foram executados trabalhos de pesquisa e melhoramento em suas florestas para que assim fossem melhoradas, suas florestas.

Dando início em 1974 o departamento de pesquisa e melhoramento florestal, um árduo trabalho realizado pela equipe deste departamento, resultou em extraordinários dados e resultados que são aplicados até os dias atuais. 

Maioridade da CAFMA em pesquisas de melhoramento genéticos

A CAFMA na década de1980, coloca no mercado brasileiro o que existe de mais avançado em tecnologia florestal sementes de Pinus de ótima qualidade, conseguidas através de um complexo trabalho genético que completa 20 anos de estudos e pesquisas.

A produção de sementes geneticamente melhoradas, coloca a CAFMA entre as pioneiras do setor, garantindo tranquilidade e segurança a seus usuários.

Árvores com bom volume bom diâmetro boa forma, ramos finos, copa pequena e angulação de ramos perfeita só são conseguidas mediante estudos pesquisas e trabalhos genéticos com matrizes perfeitas. Este é o know-how CAFMA que além de produzir arvores para consumo in- dustrial do complexo Freudenberg, coloca no mercado florestal toda experiência no trabalho genético, para se conseguir florestas realmente superiores

Através da técnica de polinização controlada a CAFMA testa sua coleção de matrizes procurando solucionar os indivíduos que proporcionem as melhores progênies. Produzindo um banco clonal de Pinus oocarpa de 25 hectares contendo 200 matrizes repetidas 35 vezes cada.

O método de reprodução vegetativa por enxertia, possibilitou a instalação, já em primeira fase, de bancos clonais, e após os testes de progênies de pomares de sementes os quais, além de servirem de áreas de reservas de material genético, têm também como finalidade a produção de sementes melhoradas visando o atendimento das necessidades da CAFMA, assim como do mercado nacional e internacional de sementes.

Para conhecimento das qualidades técnicas das sementes eram realizados cuidadosos testes de germinação e pureza. As sementes embaladas em tamboretes especiais, eram cuidadosamente armazenadas em câmara fria aguardando o momento de serem utilizadas.

Os cones, ou seja, os "frutos" dos pinus onde estão contidas as se- mentes, são levados para secagem em estufas especiais. As sementes são separadas dos cones e levadas a beneficiamento, enquanto aqueles são aproveitados como fonte de energia, queimados na caldeira.

Após separadas as sementes dos cones, elas eram levadas para beneficiamento. A fim de assegurar quase cem por cento de pureza, depois de beneficiadas as sementes ainda passam por uma escolha manual.

Para ter conhecimento da variabilidade genética e ambiental das arvores matrizes envolvidas no programa de melhoramento genético de Pinus tropicais. a CAFMA se preocupou com a instalação de testes de progênies em uma vasta área do território nacional, desde o Jari, na Amazónia, até Santa Catarina.

Em 1988, a Duratex S.A, comprou o Grupo Freudenberg em Agudos. Se dando então início a uma nova etapa no processo de pesquisa, melhoramento florestal e exploração de madeiras. A fábrica então passou também por uma transformação em seu processo de fabricação e produção dos produtos oriundo de suas florestas. 

Fonte: PinusLetter nº 43 https://www.celso-foelkel.com.br/pinus/pinus43_Bertolani_Pinus_tropicais.pdf
Cafmanchete, ed. Fevereiro de 1983,

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